11 de jul. de 2011

Desilusão, a mais pura solidão...

Maria... Uma menina aparentemente comum. Mas nada na vida dela dá certo. Todos admiram as qualidades que Maria mais odeia ter. Todos acham que Maria é culta e isso basta. Maria odeia o fato de ser inteligente. Maria busca algo incerto nas coisas mais simples e singelas... como o amor.

O amor.... ah, o amor. Maria o detesta. Maria tem para ela que o amor existe só para fazer frente ao ódio. Maria nunca entendeu, nem sentiu o amor. Maria vive mergulhada num mundo de dúvidas. Maria não acredita em mais ninguém, Maria não gosta mais de ninguém. Sua família a repugna. Seus amigos a usam. Para Maria, o mundo nunca tem tempo pra ela, mas ela sempre tem tempo pro mundo. Maria diz ter déficit de atenção, o mundo conclui: "ela é mimada demais..."

Maria já teve várias paixões. Não muito duradouras, mas ainda sim paixões. Maria diz que o mundo a rejeita pelo fato de ela ser feia. Maria acredita muito na teoria do "bonito, magro, rico". Maria odeia o fato de ser gordinha, mas nunca fez nada contra isso. Maria busca ajuda na família, mas eles estão incomodados demais pra ela. Maria busca ajuda nos amigos, mas eles são quem precisa de ajuda.

A arte, talvez o único amor da vida de Maria. Maria ama escrever, gosta muito de teatro e crê que a arte é algo revolucionário. A família de Maria despreza demais a arte, isso a afasta cada vez mais. Maria não tem parentes em sua faixa etária, ela é a "atrasada" da família.

Mas imaginem só. Uma menina feia, gordinha e ainda por cima "nerd". Quem iria querer? Maria pensa assim também. Maria sempre diz que todos nos fazem crer que o amor é cego, o amor não vê beleza. Mas sempre um feio quer ficar com um bonito, o bonito o descarta por ser feio.

Maria começou a procurar semelhantes, mas não achou. Pois todos os ditos feios se acham bonitos. Maria nunca se sentiu à vontade na vida. Maria não tem o dinheiro que gostaria de ter, não é tão bela como gostaria, não é tão magra como gostaria e não tem os amigos que gostaria. Maria fica somente com as sobras...

Maria chegou à conclusão de que não existe "bonito, magro e rico", que na verdade isso não importa. A única coisa que importa pro mundo é o mundo. A única coisa que importa pra Maria é ela mesma. Maria cansou de viver em prol dos outros, Maria cansou de ser "usada". Hoje em dia, Maria crê menos no amor. Já que ninguém liga pros sentimentos de Maria, por que ela tem que se preocupar com os sentimentos alheios?

Em nossa última consulta, Maria me confessou que não tinha mais como trabalhar escondida de seus pais para me pagar. Antes de retirar-se, Maria disse:


- Você foi o único que me compreendeu, faço votos de que você seja feliz. Adeus. 


E foi-se. Eu, particularmente, acho que "adeus" é uma palavra bem mais forte que um "tchau", que um "até breve". Nesse momento tive a sensação de que nunca mais a veria. Não deu outra. Ao sair para dispensar a secretária, ouvi os gritos e corri para as janelas. 


Maria estava cortando seus pulsos em praça pública. Esfregando sua eterna dor em quem quisesse ver. Quando finalmente cheguei à deplorável cena, Maria já havia morrido. Uma sensação estranha me dominou. Jorrava sangue por seus pulsos, pelo pescoço, por seus braços. E ninguém fora capaz de fazer um singelo telefonema ao serviço de emergência do Hospital Central. O mais estranho é que não havia ninguém que reparasse na cena, passavam como se não a vissem.


Ainda tenho a impressão de que Maria foi uma invenção minha...


Flávio Ismerim Ferreira

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